quarta-feira, 17 de novembro de 2010

20 DE NOVEMBRO - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


  Quem não entende as ligações do presente com o passado não pode perceber o quanto há de escravidão nos dias de hoje. Milhões de negros estão condenados a viver à margem da vida social pela arrogância dos poderosos, descendentes diretos e continuadores dos “senhores de ontem”. A princesa Isabel nos fez alimentar durante um século a ilusão de que um MILAGRE BRASILEIRO tinha acontecido em 1888, pela assinatura da Lei Áurea. Fomos levados a acreditar que a escravidão, quase que por um toque de mágica, tinha sido banida do país por decreto imperial e esquecida definitivamente.
Mas, acordamos... E descobrimos que ela nunca foi banida. Escravidão ainda existe. Ela está viva! É atual, permeia nossa realidade. Mesmo com um documento de porte querendo afirmar o contrário. A abolição, na medida em que não promoveu a integração social do escravo, reafirmou a idéia de inferioridade do negro, o que contribuiu ainda mais para sua marginalização. Alguém escreveu que com a Lei áurea, não foram os negros que conquistaram a liberdade, e sim os brancos que se livraram dos negros.
Há um longo e sofrido caminho para que os efeitos da escravidão sejam eliminados e surja uma sociedade de cidadãos com direitos e deveres iguais. Algo está mudando, porém são muitos os negros que continuam presos nos porões de nossa sociedade.
Na verdade, nos acostumamos à situação existente no Brasil e confundimos tolerância social com democracia social. Para que haja esta ultima, não é suficiente que haja “alguma harmonia” nas relações sociais de pessoas pertencentes a estoques sociais diferentes ou que pertençam a raças distintas. DEMOCRACIA significa, fundamentalmente, igualdade social, econômica e política. Não conseguiremos construir uma sociedade democrática nem para os “brancos”. É uma confusão pretender que o negro e o mulato contam com igualdade de oportunidades diante dos brancos em termos de renda, prestígio social e poder. O padrão brasileiro da relação social, ainda hoje dominante, foi construído para uma sociedade escravagista, ou seja, para manter o “negro” sob sujeição de “branco”. Enquanto esse padrão de relação social não for abolido, a distância econômica, social e política entre o negro e o branco será grande, embora tal coisa não seja reconhecida de modo aberto, honesto e explicito.
A propalada “democracia racial” não passa, infelizmente, de um mito social criado pela maioria: ela não ajuda o branco no sentido de obrigá-lo a diminuir as formas existentes de resistência social à ascensão social do negro, nem ajuda o negro a tomar consciência realista da situação para modificá-la.
“O racismo, algoz da alma, é um sentimento antinatural. Porque a mãe natureza, da mesma forma que a alma humana, também ama a diversidade. Nenhuma criação natural se repete; todas elas são infinitamente variadas. Não há uma única impressão digital igual a outra; nenhum rosto exatamente igual ao outro, desde que o homem existe sobre a Terra; nenhum planeta ou estrela, nenhuma folha; nenhum dia ou noite que se repitam. Como cada pessoa, cada coisa que existe é única, não se repete e é diferente de todas as outras”.


Texto - Tatiane Maffini - Direito.

3 comentários:

Laura Vilhena disse...

O Tatiane, bom texto, obrigada. Importante tratar sobre esses temas, reavivar nossa memória histórica para que possamos rever e refletir sobre discriminação racial e social que realmente permanece nas mentes e sentimentos de nossa população.

Anônimo disse...

zumbi 300anos de resistência!!

ser ViVO disse...

vamos lembrar da resistência indigena tambem!
nossos irmãos que estao cada vez com menos espaço para recriar sua cultura. mas a resistência permanece!