Quem não entende as ligações do presente com o passado não pode perceber o quanto há de escravidão nos dias de hoje. Milhões de negros estão condenados a viver à margem da vida social pela arrogância dos poderosos, descendentes diretos e continuadores dos “senhores de ontem”. A princesa Isabel nos fez alimentar durante um século a ilusão de que um MILAGRE BRASILEIRO tinha acontecido em 1888, pela assinatura da Lei Áurea. Fomos levados a acreditar que a escravidão, quase que por um toque de mágica, tinha sido banida do país por decreto imperial e esquecida definitivamente.
Mas, acordamos... E descobrimos que ela nunca foi banida. Escravidão ainda existe. Ela está viva! É atual, permeia nossa realidade. Mesmo com um documento de porte querendo afirmar o contrário. A abolição, na medida em que não promoveu a integração social do escravo, reafirmou a idéia de inferioridade do negro, o que contribuiu ainda mais para sua marginalização. Alguém escreveu que com a Lei áurea, não foram os negros que conquistaram a liberdade, e sim os brancos que se livraram dos negros.
Há um longo e sofrido caminho para que os efeitos da escravidão sejam eliminados e surja uma sociedade de cidadãos com direitos e deveres iguais. Algo está mudando, porém são muitos os negros que continuam presos nos porões de nossa sociedade.
Na verdade, nos acostumamos à situação existente no Brasil e confundimos tolerância social com democracia social. Para que haja esta ultima, não é suficiente que haja “alguma harmonia” nas relações sociais de pessoas pertencentes a estoques sociais diferentes ou que pertençam a raças distintas. DEMOCRACIA significa, fundamentalmente, igualdade social, econômica e política. Não conseguiremos construir uma sociedade democrática nem para os “brancos”. É uma confusão pretender que o negro e o mulato contam com igualdade de oportunidades diante dos brancos em termos de renda, prestígio social e poder. O padrão brasileiro da relação social, ainda hoje dominante, foi construído para uma sociedade escravagista, ou seja, para manter o “negro” sob sujeição de “branco”. Enquanto esse padrão de relação social não for abolido, a distância econômica, social e política entre o negro e o branco será grande, embora tal coisa não seja reconhecida de modo aberto, honesto e explicito.
A propalada “democracia racial” não passa, infelizmente, de um mito social criado pela maioria: ela não ajuda o branco no sentido de obrigá-lo a diminuir as formas existentes de resistência social à ascensão social do negro, nem ajuda o negro a tomar consciência realista da situação para modificá-la.
“O racismo, algoz da alma, é um sentimento antinatural. Porque a mãe natureza, da mesma forma que a alma humana, também ama a diversidade. Nenhuma criação natural se repete; todas elas são infinitamente variadas. Não há uma única impressão digital igual a outra; nenhum rosto exatamente igual ao outro, desde que o homem existe sobre a Terra; nenhum planeta ou estrela, nenhuma folha; nenhum dia ou noite que se repitam. Como cada pessoa, cada coisa que existe é única, não se repete e é diferente de todas as outras”.
Texto - Tatiane Maffini - Direito.
3 comentários:
O Tatiane, bom texto, obrigada. Importante tratar sobre esses temas, reavivar nossa memória histórica para que possamos rever e refletir sobre discriminação racial e social que realmente permanece nas mentes e sentimentos de nossa população.
zumbi 300anos de resistência!!
vamos lembrar da resistência indigena tambem!
nossos irmãos que estao cada vez com menos espaço para recriar sua cultura. mas a resistência permanece!
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