Já não é novidade para o movimento estudantil da UEM o fato de que existe pouca participação dos estudantes nesse movimento - estranho né, um movimento estudantil no qual existe pouca participação dos estudantes. Pois é, a leitura que se tem diante disso é que um movimento fraco não dá conta de enfrentar os problemas que existem no cotidiano dos estudantes. Por isso a necessidade de revermos a estrutura desse movimento, ou seja, como que as entidades (Centros Acadêmicos e DCE) estão estruturadas de tal maneira a contribuir para que essa pouca participação se mantenha.
É nesse sentido que propomos a descentralização nas decisões das entidades. Entendemos que o modo de organização centralizado em uma diretoria que impõe suas posições e direcionamentos, seja por vinculação partidária ou por ganância individual, acaba afastando o estudante da entidade e enfraquecendo, assim, o movimento estudantil. O problema é que existem grupos políticos que, apesar de reconhecerem a fraqueza do movimento estudantil, não acreditam na descentralização como medida para alcançar maior participação. Isso porque para esses grupos políticos a descentralização significa perda de poder, perda do dce como escritório de partido, perda do dce como entidade de promoção individual e perda do dce como um aparato governista (atrelamento da gestão à reitoria ou ao governo estadual ou federal). O que interessa para esses grupos é justamente que não aconteçam essas perdas. É por isso que eles impugnaram a Chapa Descentralize nas eleições do ano passado, porque essa chapa tinha grandes chances de ganhar as eleições e iniciar um movimento pela descentralização. É bom frisar, tentaram impugnar da mesma forma a CHAPA 1 este ano. Mas não conseguiram.
Agora esses grupos políticos, que estão compondo as chapas 2 e 3, vêm em campanha dizendo que também têm propostas para aumentarem a participação dos estudantes no DCE. Porém, sabemos que se trata apenas de confundir o estudante e conseguir o seu voto. A CHAPA 2 BONDE DO AMOR POR MAIS ALTERAÇÃO, composta essencialmente pelo PT E PCdoB, apresentam a proposta de orçamento participativo, dando a entender que isso aumentaria a participação dos estudantes. Porém, verdade seja dita, por que em 2 anos de gestão eles não implementaram esse orçamento e só agora se valem dessa proposta para se fortalecerem na campanha? Será que não é se trata apenas de oportunismo político, uma vez que eles sabem que nós estamos passando em sala e os estudantes estão sabendo da importância da participação e da descentralização?
A CHAPA 3 NENHUMA DAS ANTERIORES, composta essencialmente pelo PT, está apelando no mesmo sentido. Apesar de não termos muita referência no material deles a esse respeito, sabemos que estão passando em sala dizendo que, caso eleitos, farão reuniões abertas na qual o estudante vai poder participar - um discurso que todas as chapas sempre falam em campanha, dando a entender que são democráticos e sabem lidar com as diferenças. Mas eles não têm clareza na proposta, eles não dizem, por exemplo, como exatamente irão funcionar essas reuniões, se o estudante vai poder participar somente como ouvinte ou se vai poder propor e também votar, qual o peso deste voto, a periodicidade dessas reuniões, enfim, a proposta deles não está clara e isso significa que eles não discutiram isso na base. Isso é o oportunismo das chapas 2 e 3 - eles estão se aproveitando da nossa crítica à centralização e tentando, assim, obter maior força política.
A CHAPA 1 MOVIMENTE-SE UEM, cuja composição engloba os partidos PSOL, PCB, PSTU, mas também engloba estudantes apartidários, antipartidários e Anarkistas, ao contrário das outras chapas, não trata da descentralização como um mero produto de campanha. Nós discutimos bastante a respeito disso, desde o ano passado com a Chapa Descentralize e até mesmo antes. Sabemos que nossa proposta vai alterar a dinâmica do movimento estudantil. Por exemplo, com uma gestão aberta em que todo estudante, independente de partido, cor, religião, classe ou orientação sexual, vai ter direito a participar de maneira igual com voz e voto nas decisões do dce, como ficariam os Conselhos Estudantis de Entidades de Base, os CEEB´s? Eles deixariam de acontecer? Propomos que não. O CEEB é uma instância superior à gestão do DCE e seu papel, entre outros, é o de fiscalizar a gestão (vale lembrar que a atual gestão só fez dois CEEB´s, sendo que pelo estatuto do DCE a gestão deve realizar 1 a cada dois meses). Outro ponto importante em relação a descentralização é que para ela acontecer não basta que a gestão do DCE abra suas portas e possibilite que o estudante fale e vote de maneira igual. Nós buscamos, sim, a politização do estudante e isso pode acontecer por diversas formas - com atividades culturais, com eventos de caráter científico (palestras, seminários, etc.), com debates estudantis, entre outras maneiras que podem tocar o estudante no sentido da importância da participação individual com vistas ao bem comum.
Nós entendemos que o problema da fraca participação dos estudantes no movimento estudantil é um problema histórico de anos e anos de despolitização e descrédito no estudante. A ditadura militar no Brasil, por exemplo, conseguiu construir uma imagem que é muito forte ainda hoje de que o estudante que participa da política ou é um criminoso ou é um marginal. Ou, então, outra idéia corrente hoje em dia é que participar da política é perda de tempo, uma vez que as obrigações acadêmicas são tantas e tomam maior parte de nosso tempo. Ora, do jeito como está estruturado o DCE, centralizado, participar politicamente é mesmo uma coisa massante e que faz com que muita gente se atrapalhe com os assuntos acadêmicos. É bem verdade que existem estudantes que se envolvem na política, aqueles que chamamos de estudantes profissionais, que sempre são filiados a este ou aquele partido e que ficam migrando de um curso ao outro só para não perder vínculo com a universidade, esses se aproveitam dessas opiniões e querem mesmo que os estudantes não se envolvam politicamente, porque assim fica mais fácil deles fazerem suas tramóias.
Enfim, votar em uma chapa que defende a descentralização tal como nós defendemos é votar na possibilidade do próprio votante participar, de maneira direta e horizontal. Apesar de discordarmos das posições políticas das chapas 2 e 3, a descentralização não exclui a possibilidade deles participarem. Queremos lidar de maneira adulta com as diferenças e assim somar forças. Queremos um movimento estudantil forte e atuante para superar nossos problemas.
Não queremos decidir nada pelo estudante, queremos que o estudante decida com a gente!