domingo, 15 de maio de 2011

Hoje: Kerouac, com Mário Bortolloto


Conforme Programação do Festival "Maio no Palco" do TUM, hoje, às 20h haverá a apresentação da peça "KEROUAC", com Mário Bortolloto.

"KEROUAC

Bortolotto exalta a amargurada solidão dos anônimos

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

É preciso que se saiba: há alguém se expondo despudoradamente em um palco da cidade, na peça "Kerouac". Mas que não se entenda por aí que se trata de um desses engodos autocomplacentes em que o ator impõe seus próprios problemas ao público, que ainda tem que pagar por isso.
Não: a trajetória exposta é a de Jack Kerouac (1922-1969), o mítico cronista da geração beat, que em "On the Road" (Na Estrada, 1957) narrou sua travessia pela América comungando a solidão dos anônimos.
E apesar da intensa entrega a esse quase heróico Ulisses da sarjeta, o ator nunca sai da precisa marca que o diretor lhe propôs, nem se deixa dominar por uma descarga de patético: muda de tom quando preciso, saltando do sarcasmo à confissão de fragilidade, misturando cansaço com indignação.
Essa elegante direção de Fauzi Arap, precisa e invisível, serve com desenvoltura ao texto de Maurício Arruda de Mendonça, que, embora endosse a indignação de Kerouac, não hesita em expor seu lado menos brilhante.
Com a mesma ênfase, o vemos afirmar seu patriotismo bélico, seu anti-semitismo, sua homofobia. É fundamental não transformar aquele a quem se admira em ídolo irretocável.
O valor de Jack Kerouac é o de se colocar por inteiro em cada afirmação, não o de afirmar sempre verdades.
Frágil, a poucos dias de sua morte, rezando para largar o álcool, cuidando da mãe inválida e insultando os admiradores e velhos amigos, ama-se o autor por sua fraqueza, não por seu mito.
E ao passar em círculo vicioso pelos "altares" mínimos do cenário, como a escrivaninha-trabalho, o sofá-viagem, a penteadeira-mãe, o altar-bebida, sem perder o realismo do tom, é como um ritual de despedida a coreografia que esse ator faz.
Esse ator, é preciso dizer agora, é Mário Bortolotto, da companhia Cemitério de Automóveis. Evitou-se dizer seu nome neste texto até agora porque ele vem se tornando ele mesmo um personagem, por mérito de estrada, uma estrada paralela ao de Kerouac, ao colecionar em suas peças retratos dos amigos de geração.
E se o público pressente a cada depoimento uma confissão pessoal de Bortolotto, na amargura da fama sem fortuna, no orgulho de viver intensamente cada momento, o autor nunca passa na frente do ator.
Bortolotto é um grande ator, e seria vital para sua geração mesmo que nunca tivesse escrito seus textos.
Porque, como Kerouac, coloca-se sem pudor em cada frase, em cada gesto. Pode se discordar de seu tom e de seus temas, mas nunca duvidar de sua autenticidade.
No palco, na pele de seu ídolo, finge que é dor a dor que sente, e nunca perde o prumo.
Mário Bortolotto expõe Jack Kerouac, Jack Kerouac expõe Mário Bortolotto e, nessa entrega, todos ganham".

Lembrando que o valor do ingresso é R$4,00, e para estudantes R$2,00.

Um comentário:

Anônimo disse...

copa calorada acaba esse ano ainda?

-.-'